Importa, na nossa humilde opinião, promover uma prática desportiva que cuide não só da saúde, mas também do bem-estar da pessoa humana, isto é, uma prática desportiva centrada na importância dos princípios éticos, uma vez que no desporto não se ensinam só técnicas, não se ensinam só táticas, aprende-se, de igual modo, a respeitar e a confiar nos companheiros, bem como a respeitar os adversários.
Na verdade, o desporto contém valores de descoberta de si mesmo, valores de desenvolvimento pessoal, valores de educação social, valores esses que as pessoas devem manter ao longo de toda a sua vida.
Como elemento da civilização o desporto configura “um sistema de valores espirituais, uma prática cultural para espiritualizar o mais possível a dimensão física, motora e biológica do homem, para esclarecer e legitimar, para a dignificar e elevar”.
Valores como a lealdade, o respeito, a ordem, o autocontrole, o desapego, a paz, a bondade, a fraternidade e a higiene do corpo e do espírito, podem e devem ser utilizados para o desenvolvimento das pessoas com fins exclusivamente humanistas e, ainda, como fundamento e como finalidade da prática desportiva.
Assim sendo, é da mais alta importância para o desenvolvimento do conceito de desporto, “reiterar corajosamente, poderosamente, o nosso empenho pela educação axiológica”, no caso em apreço, “os valores do bem, éticos”. A principal lição que se aprende com o desporto é “a fidelidade a princípios, a capacidade de superar as adversidades quando se tem um ideal a perseguir, a bravura sem alarde”…
Quando refletimos sobre a questão do desporto, nomes como os de Aurora Cunha, de Rosa Mota, de Telma Monteiro, de Nuno Delgado e de Cristiano Ronaldo, entre muitos outros, surgem-nos, de imediato, em virtude dos seus desempenhos excecionais.
Na verdade, “goste-se ou não do desporto não se lhe pode ficar indiferente. Há nele, sempre, algo que nos fascina. O esforço dos atletas, a ideia de superação, a beleza dos corpos, a plástica do movimento, as emoções e a cor, a vitória e a derrota, a festa e o drama (…) são valores a que não somos insensíveis”.
É bem verdade que o espírito vencedor decorre da formação que se recebe dos pais e do meio social, dos sólidos conceitos de civismo, de ética e de respeito para com o ser humano e, de igual modo, a questão dos valores, da educação axiológica.
Destaca ainda a qualidade humildade afirmando-se, claramente, como um pequeno e humilde ser, com qualidades e defeitos.
Razão pela qual me “atrevo” a dizer, quase que em jeito de conclusão, que o respeito pelas regras mais elementares do fair-play, bem como pela ética, devem estar sempre presentes na prática desportiva desde as crianças e jovens até aos adultos, num percurso que assegure o futuro da pessoa humana e, concomitantemente, da sociedade.
Texto:
José Mário Cachada (ISCE Douro)
José Mário Cachada é licenciado em Educação Física (com especialização em Futebol), mestre em Ciências do Desporto – Ramo de Gestão Desportiva e doutorado em Ciências do Desporto, pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. É professor de Educação Física na Escola Secundária de Almeida Garrett, coordenador nacional da modalidade de Judo no Desporto Escolar, Professor Coordenador no ISCE Douro e Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto.