A apresentação do livro “Mamã, quero ser um menino” da autoria da jovem Ana Rita Almeida, que decorreu no passado sábado (3 de agosto), no Centro Cultural Raiano, em Idanha-a-Nova foi interrompida de maneira violenta por representantes da associação Habeas Corpus, impedindo a apresentação do livro. Infelizmente esta não é a primeira vez que esta associação se comporta desta maneira violenta.
O ex-juiz Rui Fonseca e Castro, presumido responsável desta associação extremista, apelou nas redes sociais ao boicote da apresentação do livro e disponibilizou esta para pagar a deslocação a todos os que quisessem estar presentes para impedirem a apresentação do livro.
Este comportamento não é admissível num Estado de Direto em que a liberdade de expressão é um dos direitos fundamentais.
O Município de Idanha-a-Nova nunca se deixará amedrontar por movimentos extremistas, racistas e xenófobos.
O Município, com o intuito de apoiar manifestações artísticas, continuará a organizar e promover todas as iniciativas de expressão artísticas que respeitem os nossos valores fundamentais que são a base de um Estado de Direito.
Trata-se, a nosso ver, do mais elementar serviço público e não deve ser confundido com qualquer imposição de uma determinada ideologia.
Neste contexto, foram apresentadas 3 obras literárias na XXIV Feira Raiana. Durante o certame, todas as referidas apresentações ocorreram na Sala Polivalente do Centro Cultural Raiano.
Não nos deixamos intimidar por pessoas que de forma, desordeira, prepotente e intimidatória, entraram aos gritos na referida sala, empurram cadeiras e, sem qualquer autorização, colaram cartazes nas paredes.
Devido à postura deste grupo de pessoas, por indicação das autoridades policiais, a autora Ana Rita Almeida e o Presidente da Câmara foram retirados do local, com o intuito de acalmar o ímpeto do referido grupo e, assim, evitar eventuais agressões físicas aos presentes.
Numa Democracia deve haver sempre espaço para a livre manifestação ideológica, artística e intelectual.
Nos dias de hoje, urge, semear uma cultura de tolerância e compreensão por ideias e opiniões contrárias às nossas.
A Identidade de Género é um tema muito pertinente nos tempos que correm e não devemos ter receio de o abordar, discutir e enfrentar, trocando ideias e opiniões e, transmitindo a nossa posição sempre de forma construtiva e sadia.
O livro em questão terá, pelo menos, o condão de despertar consciências sobre o tema e promover a sua discussão.
Contudo, este grupo de pessoas nunca desejou discutir quaisquer ideias com os presentes no evento, mas sim, por meio de uma violenta gritaria (com recurso inclusive a megafone) silenciar a voz (e as ideias) dos demais, numa flagrante demonstração de intolerância, violadora do fundamental direito à liberdade de expressão e opinião dos demais, nomeadamente, da autora Ana Rita Almeida, consagrado no artigo 37.º da Constituição da República Portuguesa (a maior conquista de Abril) e no artigo 10.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
Esta incapacidade em dialogar apenas poderá ser entendida como o espelho da (pouca) valia dos seus argumentos.
Posto isto não podemos deixar de apoiar a Ana Rita Almeida na defesa da sua liberdade de expressão, opinião e manifestação literária, estando na disponibilidade para colaborar com a mesma e com as autoridades no apuramento das responsabilidades que se mostrem pertinentes relativamente ao ocorrido, reservando-se o direito de apresentar queixa ao Ministério Público, apurados os factos.
Não é admissível ficar indiferente perante tamanha agressão ao coração da nossa Democracia, a liberdade de expressão.
Comunicado na integra da Câmara de Idanha-a-Nova