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Bussaco já é Monumento Nacional

O Conselho de Ministros reclassificou, ontem, como monumento nacional o conjunto do “Palace Hotel do Bussaco e mata envolvente, incluindo as capelas e ermidas, Cruz Alta e tudo o que nela se contém de interesse histórico e artístico, em conjunto com o Convento de Santa Cruz do Bussaco”.

Na opinião do presidente da Câmara Municipal da Mealhada, Rui Marqueiro, “esta decisão do Conselho de Ministros vem corrigir um erro grave que tardava em ser corrigido e fazer finalmente justiça a um espaço majestoso e imponente, de rara beleza, único no país”.

Uma Mata Nacional que “guarda nos seus 105 hectares de área murada um património de incomensurável importância histórica, cultural, ambiental, religiosa e militar, não podia continuar a ser apenas um Imóvel de Interesse Público, como era desde 1943”, frisa.

Manifestamente satisfeito com a elevação à categoria de Monumento Nacional, Rui Marqueiro, também ele membro do Conselho Consultivo da Fundação Mata do Bussaco, diz que “valeram a pena as sucessivas reivindicações da Câmara Municipal da Mealhada e da Fundação Mata do Bussaco”.

“Andávamos há imenso tempo a fazer um trabalho de ‘diplomacia’ silenciosa, discreta, mas insistente, no sentido de sensibilizar o Governo para a urgência em retificar este erro grave que persistia sem qualquer justificação. Nunca nos resignámos. Nos últimos tempos fomos ainda mais determinados nas reivindicações. E isso deu frutos. Finalmente ouviram os nossos protestos”, afirmou o presidente do Município da Mealhada.

O presidente da Fundação Mata do Bussaco, António Gravato, subscreve as palavras de Rui Marqueiro e acrescenta: “é uma alegria enorme. É a melhor prenda de Natal que nos podiam ter dado. Fez-se justiça. Agora, temos o caminho facilitado para a candidatura que temos já em curso a Património Mundial da UNESCO, para além de que, com o estatuto de Monumento Nacional, também temos outras condições – mais favoráveis – em candidaturas a apoios comunitários”.

Um passo fundamental para o sucesso desta candidatura é a requalificação do património existente.

A Câmara Municipal da Mealhada já adjudicou a empreitada de “Requalificação e Valorização da Mata Nacional do Bussaco – Recuperação do Convento de Santa Cruz e das Capelas dos Passos e da Via-Sacra”, uma obra orçada em um milhão de euros.

Trata-se de uma obra complexa, já que a intervenção é sobre um património histórico, que terá em conta as exigências da Direção Regional de Cultura do Centro, com quem a Autarquia celebrou um contrato, assumindo-se como dono da obra e assumindo a componente financeira nacional do financiamento comunitário que vier a ser atribuído à candidatura apresentada pela Fundação Mata do Bussaco.

Deserto dos Carmelitas

Nestas terras do Luso que receberam do bispo-conde de Coimbra, D. Manuel Saldanha, os carmelitas deram corpo a um dos famosos desertos que a ordem espalhou pela Europa. Os carmelitas chamavam desertos às suas cercas conventuais. Era lugares inóspitos e longe de qualquer povoação.

Ali construíram uma casa-mãe — o Convento de Santa Cruz — 11 ermidas de habitação onde os frades viviam como eremitas; 23 capelas de devoção que formam a única Via Sacra do mundo réplica da de Jerusalem; e sete fontes, uma delas, a Fonte Fria, com uma monumental escadaria entre as árvores. A estas edificações juntam-se três portas abertas na cerca que delimita o ermitério.

Convento de Santa Cruz

O Convento de Santa Cruz do Bussaco, ligado à prática eremítica dos Carmelitas Descalços e à ação reformadora (1562) de Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, estimulou a criação de um dos mais originais Desertos da Ordem.

A sua história inicia-se em 1628, quando o bispo de Coimbra D. João Manuel doa aos carmelitas da província portuguesa a mata do Bussaco para a construção do convento e retiro dos religiosos da Ordem. No apelo constante à solidão e ao afastamento do mundo, o Convento seria então o palco de uma experiência profunda de contemplação, oração e penitência.

Via-Sacra

Na esteira da Contra-Reforma, com o reitor da Universidade de Coimbra, Manuel de Saldanha, surgiu (1644) a Via Crucis no deserto carmelita do Bussaco. Mais próximo da tipologia dos Calvários medievos, este primeiro fôlego concretizou-se através de cruzes de pau-brasil que assinalavam, com legenda, os respetivos passos que se estendiam desde a Sentença até ao Calvário.

50 anos depois, o bispo-conde D. João de Melo fez colocar representações pictóricas de cada passo da Prisão e da Paixão dentro de pequenas ermidas de plano centralizado quadrangular que invocavam a capela da Virgem no monte Carmelo.

Palace Hotel Bussaco

O Palace Hotel é uma edificação neomanuelina, construída entre 1888, ano da aprovação do projeto de Luigi Manini, e 1907. Já depois da Extinção das Ordens Religiosas, D. Maria Pia pretendeu criar neste espaço um palácio real, que rivalizasse com a Pena, mas os planos acabaram por não se concretizar e o então Ministro das Obras Públicas, Emídio Navarro, muito ligado ao Bussaco, propôs a construção de um palácio do Povo, ou seja, um hotel (ANACLETO, 2004, p.66). Para tal, encarregou o cenógrafo Luigi Manini, que terminou as primeiras aguarelas em 1886. O plano foi aprovado em 1888 e as obras tiveram início ainda nesse ano.