CentroTV

COVID-19. Mulheres académicas foram mais afetadas pela pandemia

A Universidade de Coimbra promoveu – no âmbito do projeto europeu “SUPERA |Supporting the Promotion of Equality in Research and Academia”- o estudo “Condições de trabalho, perceções sobre o uso do tempo e desempenho académico na crise da covid-19“ envolvendo docentes e investigadores/as da UC.

Segundo os resultados do inquérito, realizado entre os dias 10 e 20 de setembro de 2020, após o primeiro confinamento, as mulheres académicas foram o grupo mais afetado pela severidade dos efeitos psicológicos e emocionais associados ao confinamento, tendo reportado mais frequentemente os sentimentos de ansiedade, tristeza, preocupação com o futuro profissional e perceção de ausência de controlo sobre a situação.

“A pandemia COVID-19 motivou a adoção de medidas de contingência (por exemplo, a transição para o trabalho/ensino remoto nas universidades e encerramento de escolas e equipamentos sociais) que tiveram fortes implicações na organização e condições de trabalho académico (por exemplo, transição para aulas online, académicos/as com filhos/as passaram a compatibilizar atividade docente e científica com cuidados às crianças, investigadores/as tiveram que reformular e adaptar planos de investigação). Este estudo veio demonstrar que as novas condições para a realização do trabalho docente e de investigação tiveram um impacto diferenciado em mulheres e homens académicos, tornando visíveis ou acentuando desigualdades preexistentes em termos de condições de trabalho, possibilidades de conciliação trabalho-família, divisão do trabalho académico, e desempenho científico”, explica Mónica Lopes, coordenadora do estudo, coordenadora local do projeto SUPERA e investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

“Os resultados apontam não só para a maior severidade dos efeitos da crise pandémica sobre as mulheres académicas, mas também para a situação de particular desvantagem em que se encontram homens e mulheres académicos/as com crianças menores a cargo e docentes/investigadores/as mais jovens e com vínculos precários para corresponder à forte exigência e elevados padrões de desempenho da profissão durante a pandemia. Por outro lado, o estudo releva o papel crítico do suporte/apoio institucional (de colegas, serviços técnicos, direções de faculdades/departamentos/unidades I&D e reitoria) no amortecimento dos efeitos negativos do confinamento no desempenho académico”, acrescenta a investigadora.

Quanto à mudança no uso do tempo pessoal e doméstico/familiar, associado ao primeiro confinamento, o inquérito aponta que as atividades que sofreram maior impacto foram o trabalho doméstico e cuidados e acompanhamento a crianças e jovens, a que mais de 2/3 das pessoas inquiridas passou a dedicar mais tempo. As mulheres, em especial as académicas com crianças ou adultos dependentes, foram as mais afetadas pela sobrecarga de trabalho doméstico e familiar e pela redução do tempo de lazer.