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COVID-19. Teletrabalho pode aumentar a natalidade na Europa

O teletrabalho a longo-termo provocado pela Covid-19 poderá aumentar os nascimentos em toda a Europa por permitir a conciliação entre a atividade laboral e a vida familiar que os europeus tanto reclamavam antes da pandemia.

Segundo os dados recolhidos antes dos confinamentos por um estudo da investigadora Carla Henriques, da Coimbra Business School, e dos investigadores Oscar Marcenaro Gutierrez e Luis Lopez-Agudo, da Universidade de Málaga, com uma amostra de mais de 19 mil trabalhadores de 34 países europeus, entre os quais Portugal, o trabalho a tempo inteiro no modelo presencial desincentivava as famílias a terem mais do que um filho.

“Antes da pandemia, os profissionais indicavam ser muito difícil criar uma harmonia entre o trabalho e a vida pessoal, uma vez que chegavam a casa esgotados com o ritmo e o stress da rotina dos empregos presenciais e das pendulações casa- trabalho”, afirma Carla Henriques, autora do estudo e professora da Coimbra Business School. “Muitas vezes, para conseguirem progredir nos seus empregos e obterem uma maior progressão salarial, muitas pessoas – sobretudo mulheres – optavam por ter só uma criança ou, pura e simplesmente, decidiam não ter filhos”.

O índice de fecundidade na Europa reflete até hoje esta tendência, com uma constante diminuição do número de nascimentos nas últimas décadas. Nos mais recentes dados divulgados pelo Eurostat, nenhum país europeu atinge o número mínimo de filhos por mulher em idade fértil (2,1) que permita a renovação de gerações. Portugal continua a ser um dos países com os números mais baixos (1,38) neste capítulo.

Segundo Carla Henriques, a mudança de paradigma provocada pela massificação do teletrabalho pode alterar estes comportamentos: “A mudança nas condições de trabalho que a pandemia veio provocar poderá ter duas consequências benéficas: aumentar o número de filhos que cada família decide ter; e aumentar a produtividade de cada colaborador, por permitir que estes poupem imensas horas em deslocações, reduzam o stress e tenham uma maior satisfação global com o emprego”.

Quando a massificação do teletrabalho ainda não era a realidade diária de centenas de milhões de europeus, eram os trabalhadores a full-time que se mostraram mais insatisfeitos em todas as categorias de análise, comparativamente aos que trabalham em part-time. “Foi muito interessante percebermos que os níveis de bem- estar dos trabalhadores a tempo parcial eram superiores, mesmo reconhecendo que a sua situação era mais penalizadora em termos profissionais”, afirma Carla Henriques.