O acompanhamento arqueológico que tem sido realizado na empreitada de reconstrução e construção do edifício da Casa da Talhas, na Rua Fernandes Tomás, n.º 58 ao 66, confirma a existência, em dois troços importantes da Cerca Defensiva de Coimbra, de vestígios de uma torre defensiva pré-islâmica (desconhecida até 2007), que assenta, parcialmente, numa estrutura romana na subcave do edifício, informa a autarquia em nota.
A descoberta arqueológica “não compromete, contudo, a realização da obra, que continua a avançar nos tempos previstos”.
O imóvel comporta, também, “vestígios de um antigo edifício de época manuelina (século XVI), caracterizado por elementos arquitetónicos notáveis, com remodelações profundas no século XVII/XVIII, alargado neste período, sobretudo para sul. Identificaram-se, ainda, vestígios de cantarias manuelinas entre a cave e o 1.º andar, sobretudo no tardoz, numa extensão de 15 metros de largura, delimitado por cunhais em pedra e rematado ao nível do 1.º andar com janelas de canto de estilo manuelino geminadas, separadas no canto por uma coluna de seção circular”.

No canto noroeste, estas janelas encontram-se “bastante completas e subsistem, ainda, alguns adornos na parte superior – com uma alcachofra a rematar um pequeno conjunto de arcos da padieira. Da janela do canto sudoeste, registam-se parcos elementos na parte interior do alçado poente e sul. Num dos alçados interiores destaca-se, ainda, uma porta manuelina, que foi emparedada aquando da abertura de uma porta com moldura de azulejos enxaquetados, característicos do final do século XVII, início do século XVIII”, refere ainda o município.
No edifício é possível identificar “algumas janelas de avental, quer em alçados interiores quer exteriores, antigas janelas de sacada, sobretudo ao nível do 1º. andar na fachada principal. Já as reminiscências de antigos portões ao nível do rés-o-chão, voltados para a atual Rua Fernandes Tomás, testemunham a existência de uma remodelação intermédia, entre o século XVI e o XVII”, esclarece.
“É, precisamente, neste período, que terão sido introduzidas as talhas no edifício. Até ao momento, foram registadas um total de 50, 48 das quais na subcave. Na pança de uma delas, consta uma inscrição com a data de 1652. No limite sul da subcave, as talhas selam uma antiga porta, que terá sido emparedada, e cujos trabalhos arqueológicos de 2017, revelaram a existência de uma “nova” sala, com teto abobadado com cerca de 16 metros quadrados”, diz a edilidade.

O Gabinete de Arqueologia da Câmara de Coimbra está em articulação com a empresa responsável pela obras para que algumas destas descobertas sejam valorizadas e integradas no resultado final, sem comprometer os prazos.
O presidente da CM de Coimbra, José Manuel Silva, e a vereadora com o pelouro da Habitação, Ana Cortez Vaz, juntamente com os responsáveis pelo projeto de arquitetura (Eduardo Mota) e pela sua execução (Ana Pimentel e José Neto e Lino Bernardes), visitaram o local no passado dia 9 de novembro, numa visita promovida pela responsável pelos registos arqueológicos, Raquel Santos.