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Estudo da ESTeSC-IPC aponta pistas sobre a evolução da doença de Alzheimer

Investigação realizada pelo docente António Gabriel, da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Politécnico de Coimbra, conclui que a combinação de dois
genótipos (ApoE ε4 e a variante K da Butiricolinesterase) poderá ser importante na avaliação de risco de progressão da Doença de Alzheimer.

A investigação foi realizada em simultâneo com a comunidade docente da ESTeSC-IPC e o objetivo reside na clarificação do envolvimento das colinesterases na Doença de Alzheimer (DA). Participaram cerca de 600 indivíduos no estudo: 217 com DA, 70 com Demência Fronto Temporal, 200 controlos e 96 com Defeito Cognitivo Ligeiro (DCL).

A conjugação de dois genes, a variante K da Butiricolinesterase e o alelo ApoE- ε4, faz com que a doença evolua mais rapidamente. Quando detetados nas análises de genotipagem, numa intervenção imediata no paciente, é possível com estratégias terapêuticas adequadas, retardar a evolução da doença de Alzheimer.

Com base na tese de doutoramento em Biocências sobre a “avaliação do sistema colinérgico na doença de Alzheimer” – lançada em livro pela ESTeSC-IPC no passado dia 7 de junho – o professor António Gabriel clarifica a presença da variante K da Butiricolinesterase, uma enzima com importância no sistema colinérgico. O efeito de sinergia entre esta variante e o gene alelo ApoE- ε4 contribui para “um aumento da incidência e redução do tempo de progressão de Defeito Cognitivo Ligeiro para Doença de Alzheimer”. São genes que nascem com o ser humano e o tempo de conversão da doença é mais rápido para quem possui estes dois polimorfismos.

A DA é dominada pela “alteração da memória recente ou episódica, sendo a progressão da doença gradual e, às vezes subtil”, refere o professor. A presença do gene da apolipoproteína E (ApoE) aumenta o risco para a doença, mas não é condição necessária para a causar. Desta forma, os dados apontam para que o interesse da variante K seja central na ação da acetilcolina, sendo hidrolisada pelas colinesterases e conferindo um risco maior para a doença.

A sugestão do estudo centra-se na realização de testes de genotipagem para a variante K, procurando retardar a evolução de doentes com DCL, implementando estratégias de intervenção estabilizadoras da doença.

O desenvolvimento da DA tem sido alvo de vários estudos, especialmente no que diz respeito às hipóteses avançadas da cascata amiloide, que significa uma acumulação progressiva de proteína no cérebro, que terminam na morte neuronal celular, que atualmente são as mais defendidas. A hipótese relativa ao sistema colinérgico foi a primeira a ser formulada para explicar a etiologia da doença e é nesta que a tese de doutoramento do docente se debruça. O sistema colinérgico está associado ao desenvolvimento cognitivo e constata-se a perda de neurónios em regiões cerebrais nos doentes de Alzheimer. Esta hipótese defendia que a depleção de acetilcolina cerebral era a causa primária do declínio cognitivo associado ao envelhecimento e à DA. Em termos terapêuticos, “o uso de inibidores das colinesterases, no tratamento sintomático destes doentes, tem sido o recurso mais disponível”, explica o docente.

António Gabriel conclui que “a determinação dos dois genótipos poderá ser importante na avaliação de risco de progressão para DA em doentes com DCL, assim como na investigação futura de possíveis terapias modificadoras da doença.” A comunidade científica tem desenvolvido vários estudos para a clarificação de uma “demência com tanto impacto socio económico”, esclarece ainda. Para o docente, é gratificante dar algum contributo para a Doença de Alzheimer.