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Jorge Paiva doa diapositivos de viagens à Universidade de Coimbra

Ao longo de décadas, Jorge Paiva teve a oportunidade de viajar por vários locais do globo. Da primitiva Amazónia ao Real Jardim de Kew, em Londres, o professor fez questão de registar, em fotografia, todas as expedições e aventuras do seu percurso como botânico e ecólogo.

É a partir dos anos 60, e da inseparável máquina fotográfica, que nasce uma coleção de diapositivos que conta a história de uma vida. Aventuras guardadas em caixas de cartão, feitas à medida, agora doadas ao Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DCV/FCTUC).

“Uma vez fui para a Amazónia demonstrar que sem dinheiro se pode sobreviver, sem biodiversidade é que não”, conta. Viveu debaixo de um toldo, preso a umas árvores. Sem cama, nem roupa, apenas acendia uma fogueira para afugentar os leopardos durante a noite. “Sobrevivi comendo o que os macacos comiam: frutos“, recorda Jorge Paiva. “Foram uns dias largos ali, sem mais nada, nu. E sobrevivi.” Tudo isto sempre acompanhado pela máquina fotográfica.

“São as maluqueiras que às vezes faço”, brinca o docente jubilado da Universidade de Coimbra (UC). Como quando subiu ao pico mais alto de São Tomé, “logo de madrugada, às 4h30 da manhã”. “Pus um feto que só existe lá, arbóreo, a tapar-me as partes. Pus a máquina e tirei a fotografia”, acrescenta Jorge Paiva com um sorriso no rosto.

Das viagens e das histórias, e das fotografias que as acompanharam, resultaram milhares de diapositivos que agora estão sob a responsabilidade do DCV/FCTUC para “aproveitamento didático”. Numa breve cerimónia para assinalar o momento, Jorge Paiva mostrou alguns diapositivos com elevado valor histórico, entre os quais, as fotografias do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, em fevereiro de 1983. “Com as alterações climáticas não voltamos a ver o Jardim Botânico com neve”, lamenta o professor.

Foram inicialmente calculados 30 mil diapositivos, mas “já se chegou à conclusão que devem ser 35 mil”. Uma doação “valiosa”, garante o diretor do DCV/FCTUC, Miguel Pardal, que vai transmitir conhecimento às gerações futuras. E que é um ato de “grande justiça e raro de acontecer hoje em dia”, defende o responsável.

No DVC/FCTUC estão agora “mais de cinco décadas de dados das viagens [de Jorge Paiva] e de dados sistemáticos e científicos”. É um acervo que “vai colmatar muitas das falhas de dados antigos”, conclui Miguel Pardal.

A doação de 35 mil diapositivos surge no seguimento de uma outra feita por Jorge Paiva. O catedrático jubilado ofereceu dois mil livros à Biblioteca do Departamento de Ciências da Vida da FCTUC, que estão acessíveis ao público em geral.