completou 106 anos, Manoel de Oliveira estreou ontem à noite a curta-metragem “O Velho do Restelo”, durante o festival de cinema do real “Porto/Post/Doc”, a decorrer até sábado no Porto.
A estreia daquele que foi anunciado como sendo o seu último filme aconteceu no Teatro Municipal Rivoli, que recebe o festival, com o apoio da Câmara do Porto.
A obra de Manoel de Oliveira é marcada por duas tendências opostas presentes em toda a sua filmografia.
Em todos os filmes que realizou antes de 1964, curtas e longas-metragens, incluindo Aniki-Bobó (1942) e A Caça (1964) predomina um estilo cinematográfico puro, sem diálogos ou monólogos palavrosos.
O Acto da Primavera (1963) é o primeiro filme de Oliveira em que o teatro filmado se torna uma opção e um estilo.
O Passado e o Presente (1972) será o segundo.
Por muitos anos o teatro filmado, salvo raras excepções, será na obra de Manoel de Oliveira opção dominante, que se extrema com O Sapato de Cetim (1985).
Na passagem da década de oitenta para noventa essa tendência atenua-se. Monólogos e diálogos são cantados em Os Canibais (1988) , o teatro converte-se em ópera, a palavra deixa de ser crua para ser cantada. Pouco depois, o teatro surge em doses equilibradas com o cinema em A Divina Comédia (1991).
Gradualmente e a partir de então o estilo cinematográfico volta a predominar na cinematografia de Oliveira com filmes mais leves e de menor duração.
É de admitir a hipótese de tal se dever, por força das circunstâncias, à necessidade de fazer filmes num formato que não afaste o público, talvez também pela nostalgia dos primeiros filmes que fez.