CentroTV

Moda ou ciência, o que é e para que serve o Mindfulness?

Nas últimas décadas, a prática de mindfulness (atenção plena) tem vindo a ganhar
terreno um pouco por todo o mundo, nos mais diversos contextos.
Por exemplo, gigantes tecnológicas como a Google e a Apple têm programas internos de
mindfulness para os seus gestores e funcionários, reconhecendo a sua eficácia no
aumento da produtividade.
Em Portugal, apesar de já ser prática adotada na saúde e na educação, ainda há
desconhecimento e muita resistência em reconhecer os reais benefícios desta
abordagem.
Para contrariar esta tendência e mostrar o trabalho científico que é
realizado no país, a Associação Portuguesa para o Mindfulness (APM), em conjunto
com o Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-
Comportamental da Universidade de Coimbra (CINEICC) e a Associação Mentes
Sorridentes, vai realizar, pela primeira vez, um encontro que permita a partilha de
conhecimentos e de experiências de aplicação de mindfulness e compaixão.
As “I Jornadas de Mindfulness e Compaixão” vão decorrer, nos dias 14 e 15 de
fevereiro, no auditório do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
Ao longo dos dois dias, os cerca de 200 participantes vão conhecer os resultados de
vários projetos em curso, sobretudo em quatro grandes áreas: educação, saúde,
desenvolvimento pessoal e organizações.
Na área da educação, vão ser apresentados cinco projetos que estão no terreno, em
locais tão diferentes como Lisboa, Coimbra ou Leiria. Um deles é o projeto “Mentes
Sorridentes”, implementado por uma associação de professores, primeiro em
Loures, e posteriormente em várias zonas do país, tendo revelado resultados muito
positivos não só nos professores, mas também nos alunos e na própria vida da
escola.
 
«Nos professores, notou-se uma diminuição do stress, da ansiedade e do
burnout (esgotamento profissional); nas crianças aumentou a satisfação com
a vida e observou-se a melhoria da sua participação e rendimento escolar,
assim como a diminuição de ansiedade», concretiza José Pinto Gouveia,
professor catedrático da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da
Universidade de Coimbra e coordenador científico das jornadas.
Outro dos estudos que vai ser apresentado é o designado “As escolas
compassivas”, que decorreu em Coimbra, focado no desenvolvimento de algumas
competências de mindfulness, mas essencialmente na compaixão, que mostrou ter
contribuído bastante para a promoção do bem-estar psicológico e físico dos
professores.
Ao nível da saúde, onde esta abordagem tem sido bastante aplicada, destaca-se a
apresentação dos resultados de um estudo, pioneiro em Portugal, realizado com
jovens agressores, focado na terapia baseada na compaixão. Vão também ser
conhecidos resultados da aplicação de programas de mindfulness em mulheres
com cancro de mama, na dor crónica e no combate à obesidade e ingestão
alimentar compulsiva.
Apesar de «o mindfulness estar na moda», a verdade é que «tem vindo a ser
amplamente reconhecido como ferramenta terapêutica eficaz, com benefícios
validados empiricamente em diferentes áreas», afirma José Pinto Gouveia.
O mindfulness caracteriza-se pela «prática de prestar intencionalmente atenção
ao que está a acontecer na nossa vida, dentro e fora de nós, com uma atitude
de aceitação e sem ajuizar, ou seja, um treino mental que ensina as pessoas a
lidarem com os seus pensamentos e emoções», explica o docente da FPCEUC.
Dito de outro modo, «não é panaceia universal ou uma pílula da felicidade. O
mindfulness é para a mente o que o exercício físico é para o corpo. É um treino
mental que tem de ser praticado, e essa prática desenvolve capacidades do
cérebro e competências que nos permitem defender um pouco das próprias armadilhas do cérebro, por exemplo, da negatividade natural do cérebro», conclui.
As “I Jornadas de Mindfulness e Compaixão”, que terão também um forte carácter
formativo, são dirigidas a professores, psiquiatras, psicólogos, terapeutas, médicos,
gestores, e estudantes, bem como ao público em geral interessado na temática.