Morreu o ator português Luís Aleluia, aos 63 anos.
A notícia foi avançada na noite desta sexta-feira, 23 de junho, por Herman José, nas redes sociais. Minutos depois, Flávio Furtado revelou no ‘TVI Extra’ que o artista foi “encontrado sem vida em casa”.
Cedo se interessou pelas Artes Performativas tendo colaborado em diversos Grupos de Teatro Amador até ingressar na Companhia de Teatro de Animação de Setúbal onde se profissionalizou e cumpriu o estágio, após o que se mudou para Lisboa onde fixou residência.
Actor com diversas intervenções em teatro e televisão, ganhou grande popularidade com a interpretação de “Menino Tonecas” na Série da RTP, As Lições do Tonecas.
Premiado com diversas distinções pela sua actividade de actor, Luís Aleluia é também autor, encenador e produtor de espectáculos, tendo criado junto con Carlos Alfaiate a empresa Cartaz – Produção de Espectáculos, que desde 1992 tem desenvolvido um importante trabalho no âmbito da descentralização. “…Um bom conhecimento das suas qualidades revela-o um actor cómico de bom estilo sem recursos extravagantes ou exagerados…” Varela Silva, in “prog. do espectáculo “Cá estão Eles”, Lx.1987″
Com 10 anos de idade pisa o palco pela primeira vez integrado numa récita produzida pela Casa do Gaiato de Setúbal, instituição onde permaneceu até aos 16 anos. Aos 17 adere ao grupo de teatro amador “Presença” e enquanto estudante, participou como actor em vários trabalhos do grupo cénico da Escola Comercial de Setúbal, onde foi co-fundador do GTL – Grupo Tempos Livres, uma organização estudantil virada para a ocupação dos tempos extra-curriculares em actividades culturais, onde desenvolve intensa actividade criativa nas áreas da interpretação, dramaturgia e encenação teatral, utilizando como ferramentas do seu trabalho as matérias da disciplina de Teatro, que tomou como opção, no curso de Humanísticas.
Pelo relevo neste projecto foi convidado pelo actor Carlos César, então director do Teatro de Animação de Setúbal, a integrar o elenco da Companhia, onde se profissionalizou e obteve a sua carteira profissional como actor de Teatro, após o estágio.
Em Setembro de 1982 é convidado pelo empresário Vasco Morgado a participar na Revista à portuguesa “Há!… Mas são verdes”, levada à cena no Teatro Variedades ao Parque Mayer, com textos de César de Oliveira, Rogério Bracinha, João Nobre e Manuel Correia. Espectáculo que estreia em Janeiro do ano seguinte, com Camilo de Oliveira e Ana Zanatti a encabeçar o elenco e conta ainda com a participação de Luísa Barbosa, Anita Guerreiro, Luís Mascarenhas, Vítor Norte e Camacho Costa, entre outros, onde foi bem referenciado pela crítica. No mesmo ano, em Setembro passa a integrar o elnco artístico do Teatro Maria Vitória onde participa em mais duas revistas à portuguesa:
“Quem me acaba o resto!” e “O Bem tramado!”, tendo, nesta última, sido distinguido com o troféu da revista Nova Gente, atribuído na categoria de revelação de teatro musicado /1884.
Participa em múltiplas peças de teatro produzidas por companhias teatrais de itenerância onde tem a oportunidade de trabalhar com diversos actores que considera importantes para o complemento da sua formação profissional, até criar a empresa de produção, a CARTAZ, Produção de Espectáculos que desde 1991 tem desenvolvido um importante trabalho de descentralização teatral, tanto em Portugal como em outros países da Europa, Canadá e Estados Unidos da América, junto das comunidades portuguesas aí radicadas.
Também na área do Cinema e principalmente na da Televisão, Luís Aleluia tem desenvolvido um percurso profissional de grande impacte pelas qualidades técnicas desenvolvidas, não só como actor mas também como autor de textos dramáticos.
Participa pela primeira vez num programa de televisivo, na qualidade de actor convidado, num dos episódios da série “Os Homens da Segurança”, produzida pela Atlântida-Estúdios, empresa que o convidaria mais tarde para protagonizar uma série de 18 episódios intitulada “Sétimo Direito”, co-protagonizada por Henrique Santana, Lia Gama e Cláudia Cadima. Para a E.V. – Estúdios de televisão, a convite do actor Nicolau Breyner, colabora em diversas peças de teatro e séries: “Daqui fala o morto”, “O deslize de Isabel”, “O Cacilheiro do amor” e o “O posto” onde contracenou com com prestigiados actores: Ruy de Carvalho, António Montez, José Raposo, entre outros.
Para a NBP – Nicolau Breyner, Produções, participa em 1994 na telenovela “Na Paz dos Anjos”, no papel de “Fernandinho”, com Armando Cortez, Rui Mendes, Fernanda Borsatti, João Perry, Catarina Avelar, Sofia Sá da Bandeira, Helena Laureano, Diogo Infante e Sofia Alves, entre outros, no elenco. Haveria de participar, mais tarde, em outra telenovela: “Filha do Mar”, onde se destacou no papel de “Migalhas”, emitida pela TVI em 2001.
Com o encenador e produtor Filipe La Féria, intervém, como actor convidado, em dois programas da série “Cabaret” e, posteriormente, como protagonista, em quatro peças de teatro produzidas para o programa “Comédias de ouro”, emitidas pela RTP: ” O vison voador”, “Por favor matem a minha mulher”, “O fusível” e “Paris hotel”. Registam-se neste período outras participações em outros programas de televisão, entre os quais para a SIC: “Sai da minha vida” e “Os Malucos do Riso” e para a RTP: “Companhia do Riso” e “Não és homem, não és nada”. Apesar de todas estas intervenções em televisão, Luís Aleluia conseguiu maior popularidade pelo seu desempenho na série “As Lições do Tonecas”, cujo papel de protagonista desempenhou ao longo de quatro anos consecutivos (1996 – 2000), contracenando com o actor Morais e Castro, no papel de professor.

O sucesso do programa haveria de conduzir à produção de um programa infantil intitulado: “O recreio do Tonecas” que ocupou durante algum tempo a grelha de programação das tardes da RTP. O programa “As Lições do Tonecas” está considerado como o de maior impacte da indústria da televisão portuguesa na década de 90 pelos resultados alcançados, tendo, inclusive servido de base a diversos estudos sociológios e ensaios, no campo universitário, alguns publicados.
Beneficiando das retransmissões pela RTP/Madeira, RTP/Açores, RTP/Internacional e RTP África, a série chegou a atingir a cifra de 25 milhões de espectadores. Pelo desempenho e grande impacte profissional, Luís Aleluia viu distinguido o seu trabalho com diversos prémios destacando-se, entre outros, o troféu Nova Gente, na categoria de melhor actor de televisão / 1997.
A convite de Francisco Moita Flores e, para a empresa Antinomia, participou nas séries: “O Conde d’Abranhos”, “Alves dos Reis” e “O Processo dos Távoras”. Participou, durante cinco anos consecutivos, como actor residente e co-autor dos textos humorísticos nos programs da RTP “Praça da Alegria” e “Portugal no Coração”, dezena e meia de figuras, com relevo para as personagens: “Senhor engenheiro”, “Irmãos Capela”, “Donatina” e “Meias Solas”.
Em 2013 ,também na RTP1 integra o elenco fixo da série Bem-Vindos a Beirais; no papel de “Cabo Júlio”, na qual contracena com outros nomes importantes da cena portuguesa. Em 2020/2021, regressa à televisão na Sociedade Independente de Comunicação, ao integrar o elenco da 2ª produção da série Golpe de Sorte interpretando o padre Alexandre Bento. Luís Aleluia cursa Ciências da Comunicação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / Universidade Nova de Lisboa.
Era ainda cooperador da SPA – Sociedade Portuguesa de Autores e foi membro efetivo da Direcção da Casa do Artista durante 3 mandatos.
Foi encontrado sem vida em casa dia 23 de Junho de 2023 pouco tempo depois de fazer uma referência ao humorista Raul Solnado numa públicação onde se lê “Façam o favor de serem felizes”.