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“O Fim do Mundo” vence Grande Prémio do Caminhos e “Listen” é o eleito pelo público

O filme “O Fim do Mundo” venceu o grande prémio do Festival Caminhos, em Coimbra,  e “Listen” é o eleito pelo público.
“O Fim do Mundo” pode até retratar uma comunidade “esquecida” por Portugal, mas o mais recente trabalho de Basil da Cunha não passou certamente despercebido aos olhos do Júri da Seleção Caminhos.
 
A película do luso-suíço sagrou-se, assim, grande vencedora desta XXVI Edição do Festival Caminhos do Cinema Português. Nas palavras dos próprios jurados, “o tempo, o imaginário e um elenco generoso” convergem no grande ecrã, construindo “um universo emocionalmente duro, mas que acompanha o espectador numa reflexão que se prolonga para lá dos créditos finais”. “O Fim do Mundo” arrecadou ainda o Prémio D. Quijote, atribuído pelo Júri da Federação Internacional de Cineclubes.

 
“Listen” foi o filme a conquistar o maior número de distinções. Para além do Prémio do Público, o candidato português aos Óscares foi ainda reconhecido pela prestação dos seus intérpretes, sendo Lúcia Moniz distinguida como Melhor Atriz e Ruben Garcia como Melhor Ator Secundário. Também Ana Rocha mereceu o Prémio de Melhor Realizadora, graças à “destreza com que manuseia e coloca a câmara e à sua direção de atores” – traços que, no entender dos jurados, fazem com que o espectador “se torne muito próximo do drama e da luta desta família”.
 
Animação, documentário e ficção: A pluralidade do Festival Caminhos
 
O mote “cinema português para todos” abre espaço à celebração de diferentes linguagens, estilos e géneros cinematográficos. “Maré” (Joana Rosa Bragança), “Nheengatu” (José Barahona) e “Patrick” (Gonçalo Waddington) foram eleitos, respetivamente, Melhor Animação, Melhor Documentário e Melhor Ficção.
 
Entre as curtas-metragens, distinguiu-se a película “Bustarenga” (Ana Maria Gomes), cabendo a “Moço” (Bernardo Lopes) o epíteto de filme “Revelação”. O documentário “Amor Fati” (Cláudia Varejão) foi também agraciado com o Prémio de Imprensa CISION.
 
A par da Seleção Caminhos, a competição do Festival era jogada em duas outras arenas: a da Seleção Ensaios, dedicada a filmes produzidos em contexto de formação técnico-profissional, e a Seleção Outros Olhares, virada para exercícios cinematográficos que privilegiam a sensação em detrimento do argumento. Na primeira arena, “Copacabana Madureira” (Leonardo Martinelli) foi eleito Melhor Ensaio Internacional, “O Presidente Veste Nada” (Clara Borges e Diana Agar) mereceu o título de Melhor Ensaio Nacional de Animação e “Corte” (Afonso e Bernardo Rapazote) o de Melhor Ensaio Nacional. Na segunda arena, “SOA” (Raquel Castro) arrecadou o Prémio de Melhor Filme.

 
Palmarés e respetivas justificativas do Júri
SELEÇÃO CAMINHOS
 
Prémio do Público – Chama Amarela: Listen (Ana Rocha)
 
Prémios Oficiais
Grande Prémio do Festival – Turismo do Centro: O Fim do Mundo (Basil da Cunha)
“Um tempo, um imaginário e um elenco generoso permitiram a construção de um universo emocionalmente duro, mas que nos acompanha numa reflexão muito depois de o filme ter terminado”
Prémio Melhor Ficção – Cidade de Coimbra: Patrick (Gonçalo Waddington)
“Entre o tráfico de menores e a pedofilia, Patrick mostra-nos o conflito de identidades e a aridez do mundo e da existência”
Prémio Melhor Curta-Metragem – União de Freguesias de Coimbra: Bustarenga (Ana Maria Gomes)
“Num momento onde tudo nos parece afastar, este documentário aproxima-nos uns dos outros de uma forma surpreendente, original e que articula vários universos numa linguagem expressiva”
Prémio Melhor Documentário – Universidade de Coimbra: Nheengatu (José Barahona)
“Como os afluentes do rio que navega, o realizador entrelaça a língua Nheengatu, a natureza e o homem, criando um filme que nos envolve e alerta”
Prémio Melhor Animação: Maré (Joana Rosa Bragança)
“Com uma aparente simplicidade, o filme consegue criar um universo de cores e sentidos que nos dá vontade de mergulhar no mar com o seu gigante”
Prémio Revelação: Moço (Bernardo Lopes)
“O trabalho do jovem realizador Bernardo Lopes, na definição da luz, posicionamento da câmara e no acompanhamento do jovem ator, estimula-nos com uma pequena história a querer ver os passos numa futura longa”
Prémios Técnico-Artísticos
Melhor Ator: Hugo Fernandes, em Patrick (Gonçalo Waddington)
“Com este filme, Hugo Fernandes torna-se um dos grandes rostos do cinema português”
Melhor Ator Secundário: Ruben Garcia, em Listen (Ana Rocha)
“Entre a contenção e a surpresa, Ruben Garcia constrói um personagem cheio de calor que nos cria uma âncora no filme”
Melhor Atriz: Lúcia Moniz, em Listen (Ana Rocha)
“Lúcia Moniz enche o ecrã”
Melhor Atriz Secundária: Carla Galvão, em O Cordeiro de Deus (David Pinheiro Vicente)
“Num mundo de sombras, o desempenho de Carla Galvão é luminoso”
Melhor Argumento Adaptado: Pedro Brito, em Assim mas sem ser assim (Pedro Brito)
“O argumento transpõe com delicadeza o mundo sempre original de Afonso Cruz”
Melhor Argumento Original: Pedro Peralta, em Noite Perpétua (Pedro Peralta)
“Pedro Peralta resgata, através das personagens criadas, uma noite que ainda hoje parece não acabar”
Melhor Banda Sonora Original: Philippe Lenzini, em Mesa (João Fazenda)
“Entre copos, pratos e convivas, a música de Philippe Lenzini estende uma toalha de sons e melodias que gera uma maior partilha em torno da “Mesa””
Melhor Caracterização: Júlio Alves, em O Cordeiro de Deus (David Pinheiro Vicente)
“Uma grande coerência entre a expressividade da caracterização e o ambiente dramático ficcional”
Melhor Cartaz: João Fazenda, em Mesa (João Fazenda)
“Quem vê o cartaz de João Fazenda começa de imediato a ver o filme”
Melhor Direção Artística: Nádia Henriques, em Patrick (Gonçalo Waddington)
“Uma grande cidade, uma estrada e uma aldeia são universos díspares a que o magnífico trabalho na direção artística de Nádia Henriques deu coerência narrativa e visual”
Melhor Fotografia: João Ribeiro, em Noite Perpétua (Pedro Peralta)
“É uma luz minimal que nos faz ver melhor, que nos faz ouvir melhor e que nos transporta para o universo do filme”
Melhor Guarda-Roupa: Susana Abreu, em Surdina (Rodrigo Areias)
“Sem ostentação, procurando detalhes e pantones de uma sobriedade quotidiana, Susana Abreu constrói um conjunto de figurinos que não nos deixa cair na melancolia”
Melhor Montagem: João Braz e Cláudia Varejão, em Amor Fati (Cláudia Varejão)
“Só a precisão, repetição e diferença da montagem de João Braz e Cláudia Varejão poderia estruturar e organizar a pesquisa que o filme leva a cabo”
Melhor Realizador: Ana Rocha, em Listen (Ana Rocha)
“A destreza com que Ana Rocha coloca a câmara e dirige os atores torna-nos muito próximos da luta desta família em Inglaterra”
Melhor Som: Cláudia Varejão, Takashi Sugimoto, Adriana Bolito, Elsa Mendes e Hugo Leitão, em Amor Fati (Cláudia Varejão)
“A captação, desenho e mistura de som de Cláudia Varejão, Takashi Sugimoto, Adriana Bolito, Elsa Mendes e Hugo Leitão clarifica a rede de afetos que a imagem propõe”
Prémio de Imprensa CISION: Amor Fati (Cláudia Varejão)
“Pelo retrato singular do potencial da ligação humana, pelo olhar sensível sobre as harmonias, particulares e universais da vida, pelo gesto subtil – mas grandioso – de representação da multiplicidade, da diversidade e da beleza inerentes às melodias do ser”
 
Menção Honrosa do Júri de Imprensa CISION: Armour (Sandro Aguilar)
“Pela sua ousadia estética e formal, bem como a capacidade de desafiar ludicamente os limites dos géneros”
 
Prémio D. Quijote da Federação Internacional de Cineclubes: O Fim do Mundo (Basil da Cunha)
“A familiaridade do cineasta com a comunidade de Reboleira, adquirida ao viver e trabalhar com eles durante uma década, é evidente nesta longa-metragem que revela um trabalho consistente, expresso pela empatia na relação com actores não-profissionais que se traduz em desempenhos notáveis. Os grandes planos transmitem-nos os pensamentos e sentimentos das personagens, o que dispensa muitas vezes os diálogos, quase sempre em criolo. A câmara à mão, seguindo o seu protagonista através do bairro, cria uma atmosfera de cerco, de claustrofobia, amparada pela luz alaranjada das ruas que confere às sequências noturnas um quotidiano inquieto. Uma produção realizada de forma colaborativa e hábil, de um autor que com este filme cimenta um lugar de eleição na produção portuguesa, e que merece reconhecimento dentro e fora de portas”
 
Menção Honrosa do Júri da Federação Internacional de Cineclubes: Catavento (João Rosas)
“O realizador mostra carinho e afeto pelas suas personagens, particularmente o protagonista. “Catavento”, através de uma escrita cuidada e calorosa, comunica eficazmente a incerteza sentida por um jovem numa encruzilhada, quando sente que tem “demasiadas escolhas” sobre o que fazer com a sua vida”