O projeto WinBio liderado pela BLC3 pretende a promoção do desenvolvimento rural e de proteção dos aglomerados habitacionais/edifícios contra os incêndios, através da criação de um modelo e de uma política para a criação e dinamização de “Áreas de Acolhimento Agrícola”.
O WinBio é um projeto liderado pela BLC3 e em parceria com mais 5 entidades de regiões interiores e rurais (CATAA – Associação Centro de Apoio Tecnológico Agro-Alimentar , CECOLAB – Collaborative Laboratory Towards Circular Economy, CEBAL – Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo, Food4Sustainability CoLAB e TagusValley Parque de Ciência e Tecnologia) apoiado pelo COMPETE2020.
Portugal apresenta mais de 2,6 milhões de hectares de matos e incultos (28% da área de território nacional) os chamados territórios marginais. Em termos florestais, em 2030, teremos cerca de 400 a 500 mil hectares de eucalipto no terceiro ciclo de corte (senão houver reconversões): o que representa uma não utilização desta área florestal para o sector da pasta e do papel, muito dependente de proprietários privados, não profissionais e com algumas áreas localizadas em regiões de montanha (onde o desafio e impacto é maior).
A atividade da resina natural quase que desapareceu da fileira florestal do pinho bravo em Portugal, onde na década de 80 se alcançavam as 140 mil toneladas/ano de exploração das matas portuguesas, e atualmente cerca de 6 a 8 mil toneladas/ano (uma perda aproximada de 96% da capacidade produtiva e uma perda económica, no sector primário florestal, de 200 milhões de euros/ano).
“No projeto WinBio foi desenvolvido um modelo de política territorial baseado na criação de Áreas de Acolhimento Agrícola a constituir nas zonas periféricas aos aglomerados habitacionais e industriais, que funcionam como um anel tampão (proteção) entre as florestas produtivas (incluindo os matos e incultos) e os aglomerados habitacionais e zonas industriais”, pode ler-se no comunicado enviado. “Permite resolver o problema do acesso à terra e do minifúndio”.
“Como no passado se fez ao nível da criação das Zonas Industriais, que modificou a lógica urbanística, de forma muito positiva, e se criaram outras condições para fixar e localizar de forma correta as indústrias, o mesmo é necessário e possível fazer para o sector agrícola, com grandes vantagens económicas e de proteção e resiliência dos edifícios aos incêndios”.
“As Áreas de Acolhimento Agrícola seriam infraestruturas de lotes, com estruturas e meios centrais de uso partilhado e apoio técnico ao Agricultor, que permite o acesso à terra para quem quer investir, diminuindo o investimento na aquisição da terra, e que cada lote tenha o mínimo de área viável ao desenvolvimento da atividade agrícola (devido ao problema do minifúndio), acesso a equipamentos e alfaias agrícolas, sistemas de rega mais eficientes e outros serviços de suporte e de comunidade”. “Em termos urbanístico, seriam dois anéis para culturas anuais e permanentes, onde o primeiro anel (o mais próximo da zona habitacional) seria de culturas anuais, para permitir, sempre que necessário, a expansão de edificados, e o segundo anel de culturas permanentes”.
Numa análise ao desenvolvimento do modelo das Áreas de Acolhimento Agrícola, João Nunes, presidente e CEO da BLC3, refere que “temos muitos problemas associados à valorização da terra e que originam uma perda da atividade económica, tornando-nos cada vez mais vulneráveis aos incêndios”. “Temos, também, uma sociedade cada vez mais com menos vontade de trabalhar na terra, fazer calos e com uma vontade imaginária de que a terra pode dar rendimento sem trabalho, dedicação, conhecimento e tecnologia”, acrescenta.
“Termos de tornar a Agricultura mais competitiva, pois não faz sentido que a maior parte do ano o trator e alfaias agrícolas estejam parados e sem uso e que existam pessoas que querem investir na agricultura e não têm acesso à terra. Necessitamos de modelos partilhados e de comunidades para acelerar o crescimento agrícola profissional e com escala de solo viável.”
João Nunes, sustenta, ainda, que “precisamos de fazer crescer mais a atividade económica agrícola, em benefício de uma bioeconomia e de um país cada vez menos dependente dos mercados externos e mais preparado e protegido contra os grandes incêndios que atingem habitações e edifícios industriais”.
“O incêndio da Serra da Estrela representou uma área ardida de 24 mil hectares em 11 dias, contudo o incêndio de 2017, em Oliveira do Hospital, ardeu uma área similar, de 22,6 mil hectares em 6 horas só no concelho de Oliveira do Hospital. São realidades muito diferentes e sem comparação em termos de comportamento de incêndio, onde é urgente preparar, a curto prazo, a capacidade de proteção das habitações, indústrias e pessoas contra incêndios como os de 2017.”, conclui