A Comunidade Intermunicipal (CIM) Viseu Dão Lafões vai mostrar ao mundo inteiro, no Japão, uma das mais extraordinárias tradições cerâmicas de Portugal. Nos dias 29 e 30 de abril, o ritual ancestral da Soenga será a estrela do Pavilhão de Portugal no cenário privilegiado da Expo 2025 – Exposição Mundial de Osaka.
Apresentada ontem, dia 23 de abril, em conferência de imprensa, em Viseu, a participação da CIM marca a estreia desta tradição secular num grande evento internacional, adianta hoje em nota a CIM.
Inicialmente prevista para apenas um dia, a recriação do ritual da Soenga na Expo 2025 foi alargada para dois, por sugestão do Turismo de Portugal, que reconheceu o elevado valor artístico, cultural e turístico do projeto apresentado pela CIM.
A CIM leva à Expo 2025 uma instalação imersiva centrada na Soenga, um ritual de cozedura cerâmica comunitária ao ar livre, em que o barro é transformado pelas chamas e pelo tempo. O conceito da instalação é inspirado no “círculo do fogo” tradicional da Soenga, que será recriado na sala multiusos do Pavilhão de Portugal.
Os visitantes são convidados a mergulhar num ambiente sensorial e simbólico em torno do “casal”, a pilha de peças cerâmicas organizadas dentro da Soenga, que constitui o coração desta arte. Este núcleo, esculpido em cerâmica negra de Molelos, será envolto por bancos de madeira tradicionais e por uma projeção imersiva, com som, imagem e vozes, que transporta os visitantes para o universo da Soenga.
A experiência sensorial inclui ainda uma instalação fotográfica com peças artesanais dos 14 municípios da CIM Viseu Dão Lafões. As imagens documentam a diversidade e riqueza do artesanato regional, oferecendo aos visitantes um contexto geográfico mais amplo.
A valorização do ritual da Soenga, considerado por especialistas internacionais como “um tesouro único” da cultura portuguesa, ganha ainda mais relevo com a recente inscrição do processo de produção do Barro Negro de Molelos no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. Esta inscrição oficial reconhece “a importância da manifestação do património cultural imaterial e respetivo saber-fazer enquanto prática identitária da comunidade dos oleiros” e a sua relevância “para o desenvolvimento sustentável nos territórios onde se pratica”.
Visitantes vão degustar a gastronomia da região
Durante os dois dias, a experiência será complementada por um momento performativo gastronómico. Neste, o chef Diogo Rocha irá preparar e dar a saborear produtos de Viseu Dão Lafões aos visitantes do Pavilhão de Portugal, naturalmente servidos em louça de barro negro de Molelos, numa fusão entre gastronomia e tradição. O chef será ainda responsável pela cozinha do restaurante português durante os dois dias.
Mais do que uma presença institucional, a participação da CIM inaugura um ciclo de dois anos de promoção do património artesanal de Viseu Dão Lafões, que tem como foco a cerâmica de mesa – uma vertente contemporânea da tradição oleira da região. A CIM pretende dar a conhecer esta herança em feiras nacionais e internacionais, promovendo-a como ativo turístico e fator de identidade para as comunidades locais.
“A Soenga é um testemunho da nossa memória coletiva”
Para Fernando Ruas, presidente da CIM Viseu Dão Lafões, esta presença na Expo 2025 representa “uma oportunidade única de projetar a identidade cultural do nosso território num dos maiores palcos mundiais”. “A Soenga é muito mais do que uma técnica ancestral: é um testemunho da nossa comunidade e da nossa memória coletiva, que persiste nos dias de hoje. Levar esta tradição ao Japão é também afirmar a nossa capacidade de inovar a partir da tradição”, considera.
Sobre a importância do reconhecimento internacional, Fernando Ruas sublinha ainda: “O facto de o Turismo de Portugal ter sugerido alargar a presença da Soenga por mais um dia mostra que estamos perante uma tradição com um valor simbólico e cultural que ultrapassa fronteiras. É um orgulho ver o nome de Viseu Dão Lafões associado a esta valorização do património imaterial português”.
Já Nuno Martinho, secretário executivo da CIM, destaca o impacto direto da iniciativa na promoção da região: “Estamos a levar a 11 mil quilómetros de casa algo que é verdadeiramente único no mundo. Acreditamos que esta experiência vai tocar particularmente o público japonês, um povo que valoriza muito a cerâmica e as técnicas tradicionais de produção”.
O secretário executivo acrescenta que a participação na Expo 2025 representa também uma nova forma de comunicar o território: “Através da Soenga, e de todas as peças artesanais da região que vamos levar a Osaka, estamos a valorizar uma prática com enorme valor cultural. É um convite para mais pessoas visitarem o território, conhecerem os nossos artesãos e levarem consigo um pedaço desta herança”.
Carlos Martins, CEO da Opium, responsável pela curadoria da exposição, explica o conceito da participação: “Os turistas procuram cada vez mais o que torna especial e autêntico um destino, aquilo que não podem encontrar em mais lado nenhum. Em particular, os japoneses têm grande interesse pelas técnicas de produção de cerâmica. Por isso, decidimos levar a Osaka uma técnica específica ligada à cerâmica, que seja diferenciadora e que possa abrir a porta, não só a visitas ao território, mas também a que estes produtos possam chegar ao mercado japonês e serem distribuídos no Japão. Interessa-nos este impacto na economia”.
O chef Diogo Rocha elogia o que está a ser feito no território. “Tudo aquilo que foi apresentado hoje aqui enche-nos de orgulho. A CIM Viseu Dão Lafões está a fazer diferente. É a prova de que estamos num território contemporâneo, atual, dinâmico, a mostrar a capacidade que temos quando nos unimos”. “Vamos a Osaka fazer comida de conforto e de partilha: a Vitela de Lafões. E vamos servi-la em tigelas de barro negro, feitas nos fornos comunitários a lenha da região, e juntar algo que se faz também nestes fornos, que é a broa de milho. Na minha cabeça, imagino os visitantes à volta da soenga, agarrados a uma tigela, com um pedaço de broa, a comer uma bela Vitela de Lafões”, diz o chef.
A Expo 2025 realiza-se entre 13 de abril e 13 de outubro de 2025. É a maior exposição mundial, reunindo mais de 160 países e organizações sob o tema “Conceber a Sociedade do Futuro para as Nossas Vidas”. A organização espera receber 28 milhões de visitantes. Portugal marcará presença com uma programação diversificada, que inclui ciência, tecnologia, artes e ofícios tradicionais.