A Câmara Municipal de Coimbra presta homenagem a Zeca Afonso, através de um programa cultural, nos próximos dias 10, 11 e 12 de agosto, em diversos espaços da cidade, com destaque para o Convento São Francisco e para a Casa Municipal da Cultura.
Uma exposição, uma conferência, uma mesa redonda, uma visita guiada e, naturalmente, música, fazem parte deste tributo, no ano em que se assinalam 30 anos da morte de José Afonso (Setúbal, 23 de fevereiro de 1987), nome maior da cultura portuguesa, cujo género musical de que foi um dos mais fortes cultores e impulsionadores alcançou dimensão universal.
Em específico, o programa evocativo contempla dois concertos, uma conferência e uma mesa redonda, uma visita guiada e uma exposição bio-biblio-discográfica (patente de 4 de agosto a 4 de setembro, na Galeria Pinho Dinis). Um contributo para perpetuar o irreverente e incansável artista, músico e lutador, bem como recordar a obra escrita, falada e cantada que fez de José Afonso uma personalidade incontornável da nossa história.
A Câmara de Coimbra homenageia Zeca, referência obrigatória para todos os criadores musicais ou simples apreciadores de música, figura ímpar para todos os portugueses e modelo de inspiração da cultura musical coimbrã – de ontem como de hoje – revisitando, durante três dias, a originalidade, ecletismo e riqueza da sua obra.
No intuito de manter viva a lembrança de José Afonso (nascido a 2 de agosto de 1929, em Aveiro), o Município tem o grato prazer de cumprir uma obrigação de cidadania ativa e cultural, na Coimbra onde Zeca estudou, cantou e compôs as baladas que revitalizaram o género de canção da cidade, marco identitário da nossa cultura musical.
Coimbra festejará Zeca Afonso afirmando a sua figura enquanto homem, compositor e cantor, numa lógica de tributo/homenagem, com a apresentação, em dois diferentes palcos da cidade, de um elenco de canções como os temas imortais “Venham Mais Cinco”, “Que amor não me engana”, “Maio Maduro Maio”, “Grândola Vila Morena”, “Traz um Amigo Também” ou “Os Índios da Meia Praia”.
E, como não podia deixar de ser, há, ainda, outros motivos ligados à vida e obra de Zeca Afonso que contribuirão, por certo, para a aceitação do convite lançado pela Câmara Municipal de Coimbra aos conimbricenses e a todos quantos escolham a cidade como destino turístico neste Verão, para adesão às várias iniciativas evocativas da memória de Zeca Afonso.
PROGRAMA
4 de agosto a 4 de setembro | EXPOSIÇÃO
José Afonso – De Coimbra à Fraternidade Utópica
Casa Municipal da Cultura | Galeria Pinho Dinis
Entrada livre.
Horário: segunda a sexta-feira, das 9h00 às 18h30.
Exposição bio-biblio-discográfica que compreende uma parte do espólio da Câmara Municipal de Coimbra sobre José Afonso.
A mostra inclui discos de José Afonso, em suporte vinil, em formato EP e LP, cerca de 25 fotografias de José Afonso, publicações periódicas com entrevistas de/sobre José Afonso e por bibliografia de/sobre José Afonso.
No plano musical, destacam-se algumas das primeiras gravações de José Afonso, em 1953, em discos de 78 rotações, como o EP “Balada do Outono. Fados e guitarradas de Coimbra”, de 1960, e o primeiro LP gravado por José Afonso, em 1964, intitulado “Baladas e Canções”.
Está, também, disponível a reprodução de uma das últimas entrevistas de José Afonso, dada em Coimbra, em 26 de abril de 1986, à extinta Rádio Livre Internacional, na edição de 8 de julho de 1992 do “Jornal de Coimbra”.
Exposto, ainda, o Livro de Curso de José Afonso, com destaque para a sua caricatura.
10 de agosto | VISITA GUIADA
16h00
Ponto de encontro: Largo D. Dinis
Visita guiada, gratuita, aos locais ligados à vivência coimbrã de Zeca e à sua relação com a Canção de Coimbra.
Percurso:
– Largo D. Dinis;
– Faculdade de Letras (inicia os seus estudos em Filologia Histórica, no ano letivo 1949/1950);
– Rua da Matemática (frequenta a Real República Corsários das Ilhas);
– Rua do Loureiro (muda-se da casa da tia para a casa da família Godinho);
– Rua de São Salvador (já casado, aluga um quarto nesta rua onde também frequenta com bastante assiduidade a Real República do Bota-Abaixo);
– Largo da Sé Velha (local das Serenatas Monumentais da Queima das Fitas; local onde se situa o Café Oásis que frequenta durante os anos 50);
– Rua da Carqueja (o casal muda a sua residência para esta rua, em 1952);
– Rua Joaquim António de Aguiar (frequenta também as repúblicas Paços da República dos Kágados e Real República Pra-Kys-Tão);
– Largo da Portagem – Café Montanha (edifício onde hoje se encontra instalado um banco, café frequentado pelos antigos regentes agrícolas e, nos anos 50, também por Zeca Afonso);
– Rua Ferreira Borges – Café A Brasileira (espaço onde, já professor, Zeca Afonso apresentava aos amigos o seu mais recente reportório).
19h00 | Terminado o percurso da visita guiada terá lugar, no café A Brasileira, uma atuação performativa com temas de Zeca Afonso e será servido um lanche*.
Inscrição obrigatória para a visita (gratuita) e para o lanche (*facultativo – custo de 10 euros/pax, a ser pago diretamente ao referido estabelecimento comercial), na Casa Municipal da Cultura (presencialmente ou através do telefone 239 702 630).
N.º mínimo de inscritos: 10; máximo de 30.
11 de agosto | CONFERÊNCIA
15h00
Casa Municipal da Cultura | Sala Francisco de Sá de Miranda
José Afonso e o tempo das “baladas”
Conferencista: José Manuel Beato
Sinopse: No alvor dos anos 60 do séc. XX, José Afonso deu origem ao segundo impulso regenerador da Canção de Coimbra. Sem pretensões programáticas e num grande despojamento estético, desencadeou o que veio a ser conhecido como o “Movimento da Trova e da Balada”. Neste movimento, a superação do maneirismo neo-romântico tradicional, bem como a assunção de uma intencionalidade contestatária e militante, marcaram a forma e o conteúdo das “baladas” de José Afonso.
As primeiras canções de José Afonso, em cuja emotividade poética, originalidade melódica e singularidade rítmica se cruzam com inquietação social, surrealismo popular, lirismo amoroso e utopismo libertário, tiveram impacto não apenas no renovamento do canto académico de Coimbra, mas no processo mais amplo de regeneração da “Música Popular Portuguesa”.
O sintagma “tempo das baladas” terá de ser tomado na sua ampla aceção: como período estético, momento histórico e tempo musical. Nestes planos, chronos (tempo cronológico), kaïros (ocasião propícia) e tactus (pulsação musical) articulam-se de uma maneira particular
José Manuel Beato é mestre em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). Membro colaborador do “Instituto de Estudos Filosóficos” e do “Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos”, unidades de Investigação & Desenvolvimento da FLUC. Atualmente, prepara tese de doutoramento como bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia. É pós-graduado em Ciências Documentais pela FLUC e concluiu o Curso Complementar de Canto do Conservatório de Música da mesma cidade.
Foi sócio da Tuna Académica da Universidade de Coimbra, na qual manteve atividade de 1992 a 2002, no âmbito do Fado-canção de Coimbra e da música tradicional. Integra, como cantor, o Grupo de Fados “Quarto Crescente”.
11 de agosto | MESA REDONDA
16h00 – 18h00
Casa Municipal da Cultura | Sala Francisco de Sá de Miranda
Testemunhos e experiências com Zeca Afonso
Moderador: Jorge Cravo
Convidados: Manuel Rocha e José Miguel Baptista
José Afonso escreveu, musicou, cantou, deixou a herdar. Foi mensageiro do seu próprio pensamento, mas mais. Num tempo português em que o chamado “folclore” vestia as cores garridas que a política de Salazar, executada por Ferro, lhe tinha destinado, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e muitos poucos mais procuravam, junto de quem sabia, os vestígios de uma música do povo que a ele se assemelhava – musicalmente rica, poética, funcional. E tão fundamental que o próprio Zeca viria a valer-se dos ambientes dessa música para a construção da sua obra. “Grândola Vila Morena” é um exemplo de tal construção, mas há na obra de José Afonso sinais quase intocados da música do povo português, ali convertido em guardião e divulgador – é disso que se falará, do contributo do Zeca para a nova Música Popular Portuguesa (Manuel Rocha).
Manuel Rocha é professor de Música no Conservatório de Música de Coimbra. Músico (violino) na Brigada Victor Jara, acompanhou diversas vezes José Afonso, nomeadamente, numa digressão a Moçambique.
José Miguel Baptista é cultor da Canção de Coimbra. Cruzou-se com José Afonso, nos Anos 60, enquanto estudante, em diversos espetáculos e digressões, com o Orfeon Académico de Coimbra.
Nesta mesa redonda, José Miguel Baptista salientará alguns aspetos que entende caracterizarem os principais traços de personalidade do homem e do artista Zeca Afonso:
- A Arte de provocar emoções embora não tivesse uma grande voz (alta e forte);
- A genialidade como músico;
- A enorme criatividade;
- A sua educação para além da sua loucura.
11 de agosto | CONCERTO
21h30
Antiga Igreja do Convento São Francisco
B Fachada canta Zeca Afonso
Voz, Guitarra e Piano
B Fachada, nome artístico de Bernardo Cruz Fachada, cantautor e multi-instrumentista, alcança protagonismo no panorama musical português com os discos “Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado” (2009) e “B Fachada É Pra Meninos” (2010).
Integrou a banda “Diabo na Cruz”. Atuou em várias salas e festivais como o Optimus Alive (2012), Festival para Gente Sentada (2011), Super Bock Super Rock (2011) ou no Super Bock em Stock (2010).
Tem tocado ao vivo alguns temas compostos e cantados por Zeca Afonso. Daí, surgiu a ideia de trabalhar uma série de músicas que pudessem ser um concerto de homenagem ao cantautor português, no ano dos 30 Anos do seu desaparecimento físico.
O concerto, em Coimbra, é uma estreia nacional.
Bilhete único: 8 euros*
12 de agosto | CONCERTO
21h30
Grande Auditório do Convento São Francisco
Vitorino e Ricardo Ribeiro com:
Sérgio Costa (Piano)
Carlos Salomé (Guitarras)
Paulo Jorge (Baixo)
Daniel Salomé (Clarinete e Sax)
Tomás Pimentel (Fliscorne e Trompete)
Rui Alves (bateria)
Participação especial:
Grupo de Cantadores de Cante Alentejano | Coral de Cante Alentejano
Grupo de Fados de Coimbra | Bruno Costa (Guitarra), Rui Pato (Viola) e Nuno Botelho (Viola)
Concerto com os maiores êxitos da carreira de Vitorino, alguns dos quais partilhados com Zeca Afonso, num espetáculo especial apresentado em palco com o Coral de Cante Alentejano (a que Vitorino pertence) e um Grupo de Fados de Coimbra, estilo que aprendeu a cantar, juntamente com o seu irmão Janita Salomé, com a mestria de Zeca Afonso.
Bilhete único: 12 euros