O deputado municipal eleito pelo CDS na Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital, Luís Lagos, pediu para sair do cargo.
Numa carta enviada à presidente da Assembleia Municipal oliveirense, Dulce Pássaro (PS), explica as razões da sua saída.
É esta a carta na integra que foi enviada também aos órgãos de comunicação social:
“Começo por cumprimentar V. Exa. e saudar o facto de Oliveira do Hospital, a nossa terra, poder contar, no desempenho das nobres funções da Presidência da Assembleia Municipal, com o contributo de alguém com tão valoroso currículo, capacidade e discernimento institucional. Saiba que, embora adversários em campanha eleitoral, foi com gosto que, perdendo a minha candidatura, vi a de V. Exa. conquistar a vitória.
Como sabe, assumi, logo após os terríveis incêndios que fustigaram a nossa região e, em particular, Oliveira do Hospital, a liderança de uma associação cívica, a Associação das Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal – AVMISP.
Entendo, hoje, que não devo continuar a ocupar o lugar de deputado municipal eleito nas listas da Coligação liderada pelo CDS – Partido Popular. Não porque o CDS-PP não me confie, ofereça e garanta todas as certezas quanto à gestão independente e livre do lugar por mim conquistado. Não porque considere que do exercício do meu mandato não resultaria beneficio para o trabalho da Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital. Não porque entenda que um líder de uma associação cívica não possa, simultaneamente, exercer funções políticas. São tantos os exemplos. Aliás, entendo que nós, os democratas, tudo devemos fazer para estimular a participação de todos na vida pública e nunca encontrar razões para excluir seja quem for, por esta ou aquela razão, quanto mais a participação na vida cívica servir para excluir da política.
Agora, V. Exa. compreenderá que não posso continuar no debate político local quando, fruto do desempenho na qualidade de líder da AVMISP, estou reiterada e continuadamente a ser atacado, de forma espúria, cobarde e caluniosa, na opinião difundida, por responsáveis políticos locais, de forma directa e indirecta, quanto às reais intenções do exercício do meu mandato cívico. Por conseguinte, sob pena de desiludir quem me confiou o voto, sou obrigado a resignar ao mandato na Assembleia Municipal. Penso que, dessa forma, ficam completamente esclarecidas e desfeitas quaisquer dúvidas quanto às minhas reais intenções e fico inteiramente livre para desempenhar a liderança da AVMISP sem a mesma ter de sofrer qualquer ataque em função do meu cargo político. Foi, também, por isso e para desagrado da liderança nacional do CDS, que abandonei a liderança distrital do CDS-PP. Contudo, convenci-me que na minha terra, onde fui criado e todos acabamos por nos conhecer, não teria necessidade de abandonar um cargo que me foi confiado por muitos oliveirenses. Que isso seria objecto de respeito.
Porém, tenho para mim que a relevância dos nossos mandatos não pode resultar só da confiança dos nossos eleitores, mas que, no combate político, devemos enfrentar adversários que têm por nós, apesar de discordância política, respeito pessoal e, sou, hoje, levado a ter a certeza que, em Oliveira do Hospital, tenho a confiança de quem me elegeu, mas que falta o respeito pessoal de alguns adversários políticos e, isso, numa comunidade pequena conduz à degradação de relações, a conflitos primários e ao arrastamento de toda a família para isso. E como tenho a família como o meu mais importante projecto pessoal, abdico, totalmente, do exercício actual e nos próximos anos de qualquer cargo político. E acrescento que dificilmente regressarei à vida política. Não tenho essa vontade e ambição, como tantas vezes parece ser propalado. Como V. Exa. sabe, tenho uma vida empresarial exigente que, para os mais atentos, é o primeiro e evidente sinal que a minha ocupação política a tempo inteiro é, hoje, completamente, impossível.
Penso, no último mandato, ter contribuído de forma positiva para o debate político local, para a saudável vivência democrática no nosso concelho e para o engrandecimento do nome de Oliveira do Hospital. Mas chegou o momento do resguardo e do silêncio político. Resta o pedido de desculpas a todos os que assim não o considerem e a quem em mim confiou para os representar. Foi por estes últimos, e por termos acabado de sair de um acto eleitoral, que entendi que não devia abandonar a Assembleia Municipal, mas, hoje, vejo que não existe bom espírito na nossa comunidade política para que assim possa ser.
Por último, sem querer fazer de V. Exa. minha núncia, deixo-lhe uma palavra que poderá confiar ao senhor Presidente do Município. Em momento algum, na qualidade de presidente da AVMISP, pretendi fazer-lhe qualquer ataque ou causar desconfiança sobre o seu mandato. Se assim foi entendido, lamento. Como tive oportunidade de dizer na cerimónia de tomada de posse da Assembleia Municipal posso abdicar de tudo, mas não abdico de ter voz na defesa do que considero essencial para a nossa comunidade, já que é aqui que faço a minha vida e crio os meus filhos e quero que assim continue. E não posso assistir à degradação e ao abandono da nossa região por sucessivos governos e continuar calado. Foi já com esse espirito que, permita-me dizê-lo, com coragem e independência, tive oportunidade de apoiar e participar numa marcha lenta de contestação, com o apoio do Partido Socialista, ao então governo PSD/CDS pela falta de médicos no nosso concelho e pela não construção do IC6. Não mudei desde então. Continuo o mesmo, independentemente do partido que ocupa o poder. É a mesma coerência que, hoje, me leva a contestar a falta de médicos e a não construção do IC6. Estava convencido que são questões sobre que todos podemos e devemos falar. Estava convencido que faziam parte do consenso interpartidário local. Foi e será sempre com esse propósito que estive na vida política local, primeiro a nossa terra, depois os partidos políticos. Continuarei a pensar assim e a actuar em conformidade, ficando triste que, muitos dos que usam cravo na lapela no 25 de Abril, queiram, hoje, limitar opiniões e condicionar actuações só porque não alinhadas”.