A península ibérica e Portugal em concreto, encontram-se numa zona que é particularmente afetada pelas alterações no clima, em consequência do aquecimento global. Situações de seca, ondas de calor, grandes tempestades tornar-se-ão cada vez mais regulares, sendo urgente que encaramos a necessidade de nos adaptar!
O Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) é a maior área protegida em Portugal, mas nem assim escapou à economia extrativista que tem como único objetivo o lucro. Às custas da população residente e da própria biodiversidade, temos assistido à deterioração da Serra da Estrela através de modelos de gestão que recorrentemente ignoram a manutenção e sustentabilidade da biodiversidade local. Modelos que, como consequência, tornam o território cada vez mais suscetível a incêndios e (com) a consequente deterioração do solo através da perda de flora autóctone; e que dificultam a vivência quotidiana ao mesmo tempo que facilitam a instalação de estruturas turísticas com impacto negativo na paisagem.
É possível arquitetar infraestruturas, garantindo a conservação da região e reduzindo a probabilidade de ocorrência de catástrofes.
Desde 1971 que a exploração turística da Serra da Estrela (acima dos 800 metros de altitude) está concessionada à Turistrela. Renovada por 60 anos, em 1986, engloba cerca de 40 mil hectares. Apesar dos atropelos à lei e sobrecarga turística da zona, foi entregue à mesma entidade a responsabilidade de limpeza de vegetação e de constituição de uma equipa de vigilantes para denúncia dos incidentes ocorridos nas áreas concessionadas.
Após os incêndios de 2022 e deslizamentos de terras a população continua sem ver resolvidos os seus prejuízos. Paralelamente, assiste-se ao abate de árvores vivas pelo negócio de extração da madeira, mascarado de necessária limpeza.
A comunicação do PRPNSE – Programa de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela (155 milhões de euros) ignorou agentes locais e as suas opiniões. O próprio Programa de Revitalização parece desconhecer as grandes preocupações de conservação da biodiversidade, planeamento florestal, recuperação agrícola e pecuária para priorizar o investimento em estruturas que não garantem a revitalização do que é essencial no Parque Natural da Serra da Estrela. Pior, o PRPNSE não é público e tem sido negado às associações que o têm requerido.
Temos um ICNF debilitado pela redução de recursos humanos e má distribuição dos recursos materiais; um Parque Natural enfraquecido, com uma direção regional, afastada; e uma cogestão que se tem revelado insuficiente em termos de conservação da Natureza e que tem dado prioridade ao Turismo e aos interesses que não servem a população.
Queremos diminuir progressivamente o impacto da pressão turística sobre locais sensíveis como a Torre, através da promoção de uma rede de transportes públicos de acesso ao maciço central. Queremos a garantia da participação dos agentes locais no PRPNSE e transparência nas propostas.
Queremos valorizar os trabalhadores da floresta através do aumento da verba anual afeta às equipas de Sapadores Florestais, integração dos Guardas Florestais na carreira militar do SEPNA e a Carreira Profissional dos Bombeiros.
Defendemos a remuneração de serviços de ecossistema e gestão comunitária, assim como a capacitação dos pequenos proprietários florestais e das entidades gestoras de baldios.
É urgente rever e harmonizar os instrumentos de planeamento agroflorestal; reabilitar e reforçar os meios humanos e tecnológicos dos serviços públicos florestais, de conservação da natureza e de agropecuária.
Queremos a valorização dos produtos regionais e a aposta na produção local através da promoção do consumo de proximidade.
O Bloco de Esquerda quer a continuidade das intervenções em oposição aos projetos pontuais, regidos por falta de estratégia e ponderação junto dos locais. Votar no BE é dar força às medidas que farão o que nunca foi feito pela Serra da Estrela, as populações e os/as trabalhadores/as.
TEXTO:
Lista candidata às Legislativas 2024