Se nada for feito, as obras em curso para reabilitação dos muros do Parque Manuel Braga, levarão à morte, quase certa, do alinhamento de 36 plátanos junto ao Rio Mondego.
O alerta foi lançado por um especialista da UTAD que estudou, em março passado, as condições fitossanitárias dos plátanos e os impactes previsíveis que a solução projetada e os correspondentes métodos de construção terão na sua condição mecânica e biológica.
A obra de estabilização das margens do rio prevê a construção de duas fiadas de estacas em betão, com mais de 10 metros de profundidade, o enchimento de parte do talude com uma estrutura pesada em betão armado apoiada sobre as estacas e a selagem de fendas nos taludes. A inevitável perfuração das raízes dos plátanos para construção das estacas e a trepidação resultante dos processos construtivos (escavação e compactação) irão impermeabilizar a estrutura do solo e alterar todo o seu ecossistema interferindo, de forma irreversível, com o coberto vegetal do talude, provocando a degradação anaeróbia da matéria orgânica, a asfixia e a morte radicular dos plátanos.
Os plátanos, apesar de terem raízes profundas e estruturais, dependem das raízes mais finas para a absorção de água e minerais. Devido às podas que contribuíram para o desequilíbrio das copas, essas raízes concentram-se na zona do talude onde encontram melhores condições de luz, solo e água. Também a decapagem e a remoção da vegetação no talude, com limpeza superficial e o enchimento e fecho das juntas, inviabilizará a existência de qualquer vegetação.
O Somos Coimbra, ao tomar conhecimento do conteúdo do parecer técnico, exigiu explicações ao executivo, na última reunião de Câmara, desafiando o Sr. Presidente a tornar públicos o projeto e os correspondentes pareceres técnicos. O Somos Coimbra considera inaceitável que o caderno de encargos para elaboração do projeto não tenha precavido o recurso a soluções que protegessem os plátanos.
Porque não foi criada uma equipa pluridisciplinar para avaliação do projeto? Como foi o mesmo aprovado sem conhecimento prévio dos seus impactes nos plátanos? Qual a posição da APA? Perante todas estas questões, a resposta do vice-presidente da CMC foi a de negação, garantindo que a saúde dos plátanos não será afetada.
É exatamente isso que se exige à CMC: a revisão urgente do projeto e a procura de soluções técnicas que minimizem os impactes na condição estrutural e biológica dos plátanos. O mesmo especialista da UTAD aponta para uma alternativa de intervenção, mais leve e menos intrusiva a qual, embora não isenta de danos e risco, já garante a sua sobrevivência.
O parque Manuel Braga é um dos parques verdes mais emblemático da cidade e que conta com mais de 100 anos de existência. A manter-se o previsto, esta obra traduzir-se-á na conversão da frente ribeirinha num canal inóspito, cinzento, pouco sensível à ecologia e biodiversidade, sem sombra e esteticamente desinteressante. Se tal acontecer, Coimbra saberá quem foram os responsáveis.
Ana Bastos
Vereadora sem pelouro da Câmara Municipal de Coimbra pelo movimento Somos Coimbra